SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O Sertanejo

Cunha Carneiro (*)
Arte: Retirantes (Rogério Soud)

Esse homem que vem pelo caminho,
Figura esquálida, de andar dolente,
Reflete toda a mágoa de sua gente
E transmite o amargor do ser mesquinho.

A desdita, companheira constante,
Fê-lo descrente de um porvir risonho.
Fartura e graça não passam de sonho,
Fustigando-lhe a alma a todo instante.

Os flagelos cíclicos: seca e cheia,
Matam-lhe os frutos do labor da terra.
O próprio viver se transmuda em guerra,
Exaure-lhe o sangue ao abrir-lhe a veia.

A fuga, o êxodo, a retirada,
A busca eterna do pouso vazante,
Fazem-no nômade, animal errante,
De incontáveis léguas de caminhada.

A parada curta, vaga, emergente,
Traz-lhe sustento para mais um dia:
- Jamais a esmola que, ao se dar, vicia -
A paga do eito é suficiente.

O açoite da vida a dobrar-lhe o dorso,
O trabalho insano, turrão, sem fé,
São incapazes de arredar-lhe o pé;
Não lhe esmorecem, nem fazem sobrosso.

Pois não só o peso da fatalidade
Curva essa costa sempre sofredora,
A carga maior é compensadora:
É o peso ingente da dignidade.

(*) Escritor, poeta, pesquisador.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Antônio Luiz Ramos CEDRAZ

Cedraz nasceu em uma fazenda no município de Miguel Calmon (Ba), mas cresceu e formou-se professor primário em Jacobina, no interior da Bahia, onde teve os primeiros contatos com as histórias em quadrinhos. Ao longo desses anos, Cedraz criou vários personagens e teve seus trabalhos publicados nos principais jornais da capital baiana e de outros estados, e revistas lançadas por editoras de todo o país. Com seus desenhos e histórias, ganhou prêmios e menções honrosas em concursos e exposições no Brasil e exterior, entre eles o troféu como destaque no 2º Encontro Nacional de Histórias em Quadrinhos, realizado em Araxá (MG), em 1989; quatro troféus HQ MIX (1999, 2001, 2002 e 2003), além de o Prêmio Ângelo Agostini de “Mestre do Quadrinho Nacional”.
Através do Fazcultura, foram publicados 240 mil jornais, 120 mil revistas e 6 mil livros da Turma do Xaxado. A Editora Escala, de São Paulo, publicou e distribuiu para todo o país 35 revistas da Turma, entre Quadrinhos e revistas de histórias ilustradas e de passatempos.
A Turma do Xaxado também tem sido publicada em livros didáticos das editoras Moderna, Saraiva, Ática e outras.
Prêmios conquistados pela Turma do Xaxado
HQ MIX - Melhor Álbum Infantil do Brasil, nos anos de 1999, 2001, 2002 e 2003. O HQ MIX é a mais importante premiação dos quadrinhos em nosso país e é oferecido pela Associação dos Cartunistas do Brasil, com sede em São Paulo. O HQ MIX é considerado o “Oscar” brasileiro da categoria.
Troféu Angelo Agostini - “Antonio Cedraz, Mestre do Quadrinho Nacional”. O Troféu Angelo Agostini, oferecido pela Associação dos Quadrinhistas e Cartunistas do Estado de São Paulo, é entregue somente a autores com mais de 25 anos de dedicação aos quadrinhos.Em 2003, o Projeto Turma do Xaxado recebeu Apoio Institucional da UNESCO.

DANIEL WALKER

Biólogo, escritor, professor-adjunto da Universidade Regional do Cariri-URCA, nasceu em Juazeiro do Norte, Ceará, no dia 6 de setembro de 1947. Graduado em História Natural pela Faculdade de Filosofia do Crato, hoje URCA, com Curso de Especialização em Ciências pela Universidade Federal do Ceará e Especialização em Sexologia pela universidade Cândido Mendes do Rio de Janeiro. Começou a escrever para jornais em 1965, como jornalista amador, no Jornal Juvenil de São Paulo, sendo seu Correspondente na cidade de Juazeiro do Norte. No mesmo ano, passou a ocupar a função de Correspondente de Juazeiro do Norte do jornal O Povo de Fortaleza. Em 1966 é eleito “Jornalista do Ano” de sua terra natal. A partir de 1966 ocupa a função de redator e apresentador do noticiário local do “Grande Jornal Sonoro Iracema”, apresentado pela Rádio Iracema de Juazeiro. Como jornalista foi também colaborador de vários jornais, entre os quais “Tribuna do Ceará” e “Diário do Nordeste” de Fortaleza e “Folha de Juazeiro”, “Tribuna de Juazeiro”, “A Imprensa”, “O CEJ Informa”, “Jornal do Cariri”, todos de Juazeiro do Norte. Em 1974 inicia sua vida literária associando-se ao Instituto Cultural do Vale Caririense e publicando vários trabalhos no Boletim do ICVC, editado por essa instituição. Foi Coordenador de Editoração do IPESC-Instituto José Marrocos de Estudos e Pesquisas Sociais da URCA. A partir de 1970 passou a pesquisar a história caririense e a vida de Padre Cícero sobre quem escreveu vários trabalhos.
LIVROS PUBLICADOS
Padre Cícero na berlinda
O Pensamento vivo de Padre Cícero
História de Padre Cícero em resumo
Pequena biografia de Padre Cícero
Padre Cícero na berlinda
Juazeiro do Norte, a Terra de Padre Cícero
Curiosidades sobre Padre Cícero
Maria de Araújo, a beata do milagre de Juazeiro
Biografia resumida de Padre Cícero
A Sabedoria de Padre Cícero


Os livros acima (exceto “O pensamento vivo de Padre Cícero”) possuem edições eletrônicas que podem ser adquiridas gratuitamente, mediante pedido ao autor através do e-mail:
danielwalker@click21.com.br

CLOTILDE Santa Cruz TAVARES

Nasceu na cidade de Campina Grande (PB). Formada em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1975) e, em 1983, obteve o título de Mestre em Nutrição em Saúde Pública pela Universidade Federal de Pernambuco; professora, aposentada, da UFRN desde 1976, mas o teatro, a literatura e os estudos sobre Cultura Popular também ocupam lugar de destaque na sua vida intelectual como atividades paralelas. A partir de 1993, obedecendo a irresistível determinação vocacional, passou a se dedicar às atividades intelectuais e artísticas.
É membro fundador da Comissão Estadual de Folclore, Sócia Honorária da Associação Estadual de Poetas Populares (RN), Diretora e atriz da Stabanada Companhia de Teatro, colaboradora do ZAZ, da RN-Econômico, da Revista Telepesquisa, da revista Isis, da Tribuna do Norte, foi membro do Conselho Municipal de Cultura, editora do jornal alternativo Clotilde News (1993/95) e mantém, na Internet, os sites Clotilde News, Jackson do Pandeiro, Xico Santeiro, A Feira, além de participar de programas de televisão e rádio. Na área de Folclore, publicou os folhetos A vida e a obra de Xico Santeiro (1976), A triste sina de Ritinha que criou seu filho sem dar de mamar (1981), O nascimento de um menino chamado Jesus (1984), A vida de Quincoló, bravo vaqueiro nordestino (1986).

MÚCIO Robério Procópio DE ARAÚJO

Natural de Lajes – RN, é filho de José Evaristo de Araújo e Maria Ilsa Procópio de Araújo. Formado em Jornalismo (Bacharelado - UFRN); Filosofia – UFRN (inconcluso); Especialização em Controle da Qualidade (FCAV-USP); Pós-graduação em Gestão da Qualidade Total (UFRN); Instrutor do Banco do Brasil em: Comunicação para Administradores; Comunicação e Expressão; Em Busca do Novo Emprego; Programa de Qualidade Total do Banco do Brasil (PQTBB); Mobilização para a Qualidade; Introdução à Qualidade Total; Curso Básico de Qualidade Total; BB Educar; Instrutor colaborador do PBQP-ENAP – (DF).
Palestrante sobre Movimentos Sociais no Nordeste Brasileiro:
"Antônio Conselheiro o homem e o mito"; "Guerra de Canudos – Uma visão abrangente"; "A importância estratégica da Estrada do Calumbi para o Arraial do Belo Monte, na Guerra de Canudos"; "Os segredos da Grota do Angico nos últimos dias de Lampião"; "Padre Ibiapina, uma vida devotada aos desassistidos".
Palestrante sobre Música:

"Época de Ouro da MPB – 1928/1950"; "História do Carnaval de 1869 a 1970 (Zé Pereira a Bandeira Branca)"; "História do Samba – 1838/1970"; "Luiz Gonzaga e o Ciclo do Baião".

JEOVÁ FRANKLIN de Queiroz

Nasceu na Bahia e fez jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco, com mestrado em Comunicação Social e curso de especialização no Ciespal, Equador. Primeiro lugar no concurso do Banco do Nordeste e primeiro lugar para Jornalismo no Senado Federal. Professor da Universidade Estadual do Ceará. Publicou ensaio sobre Xilogravura Nordestina, editado pelo Banco do Nordeste em 1982 e sobre o mesmo assunto no livro J.Borges por J.Borges, editado pela UnB. Publicou também as cartilhas de arte popular Literatura de Cordel e Xilogravura Nordestina. São do mesmo autor monografias sobre municípios nordestinos, editadas pelo Banco do Nordeste, e o livro Senhora Minha Madrinha (contos), além de outros contos editados por várias antologias, inclusive pela Secretaria de Cultura da Prefeitura de Niterói e em Todas Gerações, editado pela LGE, em Brasília. Com quase 30 anos de pesquisa, o jornalista Jeová Franklin tornou-se um dos maiores, talvez o maior colecionador e pesquisador da xilogravura nordestina, contando com um acervo de mais de quatro mil peças.
É autor do livro “Dupla Face de Pedra”, ilustrado com xilogravuras de dez artistas.

PAULO Medeiros GASTÃO

Nasceu no dia 14 de novembro de 1938, na cidade de Triunfo da Baixa Verde, PE. Idealizador e primeiro presidente da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), membro fundador da Fundação Vingt-un Rosado (Mossoró, RN), da Academia Mossoroense de Letras, sócio do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP), ex-professor da Universidade Regional do Rio Grande do Norte e da Escola de Agricultura de Mossoró (RN), Paulo Medeiros Gastão tem participado, com assiduidade, de seminários, congressos, encontros, cinema, sobre o cangaço e seu universo.
São de sua autoria:
· Viagem a Triunfo da Baixa Verde – 2a edição (1995)
· Contribuição a uma bibliografia do cangaço – 1845/1996 (1996).

ANTÔNIO AMAURY Corrêa de Araújo


Paulista. Um dos maiores pesquisadores da vida de Lampião e da história do cangaço, há 60 anos em busca de informações sobre o assunto realizou muitas entrevistas (com pessoas da sociedade, do cangaço e das forças policiais da época e familiares remanescentes). Suas pesquisas minuciosas, diretas, imparciais, fazem-no um autêntico mestre, criterioso e honesto. Nos anos 70, tornou-se conhecido em todo o Brasil ao participar do "Programa 8 ou 800", da TV Globo, respondendo sobre o assunto.
Tem vários livros publicados sobre o assunto, entre eles: “Lampião: Segredos e Confidências do Tempo do Cangaço”; “Assim Morreu Lampião”; “Lampião: As Mulheres e o Cangaço”; “Gente de Lampião: Dada e Corisco”; “Gente de Lampião: Sila e Zé Sereno”; “De Virgolino a Lampião”; “O Espinho do Quipá” (estes dois últimos em co-autoria com Vera Ferreira, neta de Lampião); “Lampião e Maria Fumaça” (co-autoria com Luiz Ruben F. de A. Bonfim, de Paulo Afonso – BA); “A Medicina e o Cangaço” (em co-autoria com Leandro Cardoso Fernandes, de Teresina – PI).
Seu trabalho mais recente é “Lampião e as Cabeças Cortadas”, também em co-autoria com Luiz Rubem Bomfim (Graf Tech Editora).
Sócio-fundador da União Nacional de Estudos Históricos e Sociais – UNEHS.

Antonio VILELA de Souza

Professor, pesquisador e escritor é natural de Garanhuns-PE (12/08/1953).
Escreve para os jornais Folha da Cidade, Gazeta de Garanhuns e Correio Sete Colinas, onde publicou matérias de grande repercussão, tais como: "Hecatombe de Garanhuns, uma tragédia anunciada"; "Garanhuns, seu povo e sua origem"; "Os trinta papas que envergonharam a humanidade"; "A medicina e o cangaço"; "O cangaço no agreste pernambucano", entre outras.
Apaixonado pela cultura nordestina, especialmente pelo cangaço. Em 2006, publicou o livro “O Incrível Mundo do Cangaço”, com repercussão nacional, já em sua segunda edição. Agora, o escritor prepara com muito carinho o segundo volume do “Incrível mundo do cangaço”, dando um enfoque especial ao agreste pernambucano e revelações inéditas dos ex-cangaceiros Vinte e Cinco, Moreno e Durvinha, Aristéia e dos ex-volantes:,Ten. João Gomes de Lira, Sgt°. Elias Marques, Sgt°. Antonio Vieira, Neco de Pautilha e Teófilo. E destaca o Soldado Adrião Pedro de Souza, morto na tragédia de Angico e esquecido pelas autoridades da época, Ten. João Bezerra e Cel. José Lucena de Albuquerque Maranhão.

IAPERI ARAÚJO

Médico, escritor e artista plástico.
Natural do Rio Grande do Norte (São Vicente, 21.07.1946), publicou 59 livros entre folhetos, inclusive cordel, e álbuns de desenhos e participações em livros. Seu trabalho é todo voltado para a cultura popular, em seus quadros busca registrar as festas do povo, suas fantasias, alegorias, sonhos e pesadelos. Recebeu o prêmio de Literatura da UFRN em 1973 e foi menção honrosa dos prêmios Literários Câmara Cascudo (2 vezes) e Otoniel Menezes (2 vezes) da Prefeitura de Natal.
Foi Superintendente do teatro Alberto Maranhão de Natal (RN), Secretário Municipal de Cultura de Natal, Diretor da Maternidade Escola Januário Cicco da UFRN e Presidente da Fundação José Augusto.
É fundador da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, Presidente da Associação Brasileira de Medicina Popular e Natural, vice-Presidente do Conselho estadual do Desporto e membro da Academia Norteiograndense de Letras e dos Institutos Hitórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e Goiás.
Preside a Comissão Norte-riograndense do Folclore.

Antônio KYDELMIR DANTAS de Oliveira

Presidente
Agrônomo, pesquisador e poeta de Nova Floresta - PB, filho do agricultor Manoel Batista de Oliveira e da professora Angelita Dantas de Oliveira. É pai de Joaquim Adelino e João Daniel. Namorido de Cecília Maria do Monte. Fez o Curso Primário em Nova Floresta (PB), continuando os estudos no Ginásio Agrícola de Currais Novos (RN) e no Colégio Agrícola de Jundiaí, em Macaíba (RN). Concluiu o curso de Agronomia na UFPB/CFT/Campus III – Areia (PB). Funcionário da PETROBRAS, desde abril de 1987, trabalhando em Mossoró - RN, onde reside.
Publicou, além de artigos na imprensa nordestina:
LIVROS: Filarmônica José Batista Dantas - 30 Anos de Glória (1995); Mossoró e o Cangaço (1997); Severino Ferreira - O Assum Preto da Viola (1997); Os Três Pilares da Música Popular Nordestina. (1998); Participação na VIII Antologia Literária Internacional. Editora Del’Secchi. Vassouras – RJ. 1999; Remendos -Poesia e prosa, (2001).
PLAQUETES: O Cangaço na Literatura de Cordel (1997); Síntese Cronológica do Cangaço (1997); CAFÉ FILHO – Um Potiguar na Presidência da República (1999); Ginásio Agrícola de Currais Novos – Nossa Escola, Nosso Abrigo (2006); Ao Mestre RAIBRITO com carinho (2000); Mário Souto Maior – De como um Cabra da Peste entra nos 80 anos montado no Folclore Brasileiro (2000); Luiz Gonzaga e o Rio Grande do Norte (2002); Luiz Gonzaga e o Ceará (2004).
CORDÉIS: Cangaceiro Atrapaiado – 1995; As Vaquinhas do Doutor – 1997; A festança da vitória lá na Família Feliz – 2002; O Milagre do Tributo (em parceria com Antônio Francisco); Luiz Gonzaga e a Paraíba – 2005; ABC de Zédantas – 2005; Como um cabra da peste apresenta sua Terra -2005; Deífilo Gurgel, um folclorista Potiguar - 2006; ABC da Petrobras – 2007; Vamos cuidar com carinho do nosso Corpo e da Mente (A Saúde Emocional) - 2007. A Peleja do Raio da Silibrina contra o Relampo da Palavra (2008).
Sócio das seguintes entidades culturais:
- Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço – SBEC;
- Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN.
- Poetas e Prosadores de Mossoró - POEMA.
- União Nacional de Estudos Históricos e Sociais – UNEHS.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Cartazes Que Marcaram a Jornada da SBEC




Antonio Silvino no Rio Grande do Norte

Raimundo Soares de Brito (*)


Antônio Silvino
Grafite (18/08/1993) de Guilherme Augusto - funcionário da Petrobras, baseado em foto do cangaceiro, publicada no livro “Antônio Silvino: O Rifle de Ouro”, de Severino Barbosa (Arquivo SBEC)


No dia em que o calendário assinala mais um aniversário do ataque de Lampião a Mossoró, nunca é demais, recordar-se os lamentáveis acontecimentos, lembrando às gerações do presente, os dias tormentosos do cangaceirismo no passado.

Dizem que o Dr. Raul Fernandes, depois do sucesso alcançado com o lançamento de “A Marcha de Lampião”, partiu para uma outra caminhada no roteiro do cangaço: organizar um outro livro, baseado nas incursões de Antônio Silvino e seu bando, no nosso Estado, e assim o fez com o título de “Antônio Silvino no Rio Grande do Norte”.

Conforme se sabe, três chefes de bando armado, deixaram os seus nomes inscritos no livro do cangaço, e na mente das populações sertanejas, de maneira indelével, nesta região: Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino e o mais famoso de todos – Lampião.

Cada um, porém, com a sua história, contada ou escrita com as características próprias e diversificadas, na maneira de agir, ditadas pelo estado temperamental de cada um e pelas condições ecológicas do meio ambiente, na época em que viveram e atuaram.sim faço: dessado.

Jesuíno Brilhante, cronologicamente o primeiro, na nossa região, não foi um celerado qualquer, salteador e sangüinário como tantos. Não. Tinha os seus homens, o seu grupo, é certo; muito mais para se defender da polícia e dos seus numerosos inimigos, do que para a prática do assalto criminoso à propriedade alheia. Não roubava. Sensível ao sofrimento dos humildes, dos injustiçados e desprotegidos da própria sorte, se fez deles protetor. Dizem que assaltou comboios do governo em época de seca, distribuindo os gêneros com os flagelados. A sua história se acha contada pelo escritor conterrâneo Raimundo Nonato em “Jesuíno Brilhante – O Cangaceiro Romântico”.

Antônio Silvino – de quem nos ocuparemos demoradamente neste comentário, em alguns aspectos – e sem que pese a prática de alguns assaltos – tinha lá as suas maneiras de agir, muito semelhantes às de Jesuíno Brilhante. De modo geral, também não assaltava. Mandava um recado, ou, pacificamente se apresentava ele próprio ao chefe da localidade ou ao fazendeiro abastado, a quem fazia o seu pedido, dizia das suas necessidades e das suas pretensões. Uma vez atendido, desaparecia, sem a ninguém molestar.

“Antônio Silvino, pernambucano, usou o rifle dezoito anos. Atravessou o Rio Grande do Norte, pacificamente” – diz o Dr. Raul Fernandes no livro que escreveu sobre Lampião. Este, ao contrário dos dois, foi a expressão máxima do cangaceiro nordestino. Implantou o terror. Foi em síntese, o crime personificado, matando pelo prazer de matar; roubando, pelo prazer de roubar.

No ano de 1901, Antônio Silvino acossado pela polícia paraibana, penetrou no Rio Grande do Norte. Foi exatamente quando se deu o chamado “Fogo da Pedreira”, na fazenda desse nome, pertencente ao Cel. Janúncio Salustiano da Nóbrega, do município de Caicó. Olavo Medeiros Filho residente em Natal, sabe como tudo aconteceu.

Ainda em 1901, há notícia de que esteve em São João do Sabugí. Dizem que, com a sua chegada, com exceção da casa do Sr. Manoel Amâncio, todas as outras da pequena povoação, foram fechadas. Na casa de Amâncio, Silvino foi pacífica e amistosamente recebido. Uma coleta de duzentos mil réis feita pelo seu hospedeiro entre as pessoas mais abastadas da terra, foi o suficiente para que o bandoleiro abandonasse a localidade “internando-se ainda mais neste Estado” – dizia o noticiário da época.

No ano de 1912, esteve em Jucurutu e Augusto Severo, atual Campo Grande. Muito embora Mossoró não tivesse no seu roteiro de visitas, os seus habitantes ficaram em polvorosa: “Uma notícia alarmante correu célere pela cidade nos dias agitados de maio de 1912. Teria sido visto no Alto da Conceição um presumível comparsa de Antônio Silvino” – é o que nos conta Lauro da Escóssia no seu livro de memórias, dizendo mais que “o comércio fechou as portas, o povo se aglomerou, enquanto as autoridades de imediato tomaram as providências cabíveis organizando a defesa da cidade. Mais tarde, tudo estaria esclarecido: Um comerciante da praça reconhecera no suposto ‘perigoso cangaceiro’, um seu freguês, também comerciante em Alexandria, que, quase pagava com a vida as canseiras da viagem” – conclui Lauro.

Vem dessa época, o fato que motivou esse relato.

Na sua visita a Augusto Severo – por sinal bem sucedida – Antônio Silvino deixou um recado para o povo de Caraúbas, dizendo que em breve iria até ali, com o mesmo propósito. O recado foi transmitido pelo Padre Pinto, então vigário de Augusto Severo, ao Bel. Alfredo Celso de Oliveira Fagundes, que ali se encontrava em trânsito.

O Dr. Alfredo, recém-investido no cargo de Juiz Distrital de Caraúbas, cioso dos seus deveres de guardião da lei, não viu com bons olhos a descabida e pretensiosa atitude do bandoleiro e ao chegar a sua terra, onde também já havia chegado o “ultimatum” de Silvino, encontrou o chefe local e demais autoridades sobressaltados e desalentados ante a perspectiva da indesejável visita.

Foi quando o juiz tomou a arrojada decisão: assumiu a responsabilidade da defesa do lugar e mandou dizer ao bandoleiro que, “podia vir, mas que seria recebido à bala” – aquela mesma resposta que Rodolfo Fernandes daria mais tarde a Lampião.

É claro que Antônio Silvino não gostou da resposta e mandou-lhe o troco com esta terrível ameaça:
“Pois diga a esse dotôzinho, que breve irei lá. Vô rasgá a sua carta de dotô, queimar a sua casa, esquartejá-lo e depois dinpindurá os seus restos nos postes dos lampiões da luz...”.

Imediatamente a população foi mobilizada. Alberto Maranhão no Governo do Estado, cientificado, mandou “um cunhete de balas (1.000 cartuchos)”. As lideranças locais e fazendeiros convocados atenderam ao chamamento do juiz e de repente 40 rifles estavam a sua disposição. Vários dias a então vila de Caraúbas esteve em pé de guerra na expectativa do ataque iminente, mas Antônio Silvino não apareceu para
“rasgá a carta do dotô...”.

De tudo ficou o fato e a foto documentando para a História um acontecimento, fruto de uma época de atraso que já se vai encobrindo na curva do tempo...

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Grupo de defensores de Caraúbas ao ataque de Antônio Silvino:
Francisco de Souza, Nilo de Góis, Francisco Amâncio, Elizeu Noronha, Francisco Brasilino, João Cisneiros de Góis, Firmino Gurgel, Osório Pinto, Abel Fernandes, Pedro Oliveira, Manoel Rosa, Mariano Soares, João Neiva, Samuel Mário, Nestor Fernandes, Vital Fernandes, Bento Sobrinho, Bertoldo Soares, Josué de Oliveira, Valério de Freitas, João Câmara, Manoel Darico, Elísio Fernandes, Pedro Fernandes, Joaquim Amâncio, Deodoro Gurgel, Lino Ademar, Manoel Teopompo Fernandes, Jacob Gurgel, Luiz de Oliveira, Joaquim Gurgel, Nestor de Oliveira, Dr. Alfredo Celso, Cícero Fernandes, Raimundo Costa, Manoel Arruda, José Dantas e Matias Fernandes.
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(*) Raibrito. Membro da SBEC.
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Adenda:
O leitor Margones Barros, bisneto do Cel. Luiz Martins de Oliveira Barros, dá conta de um episódio ocorrido na Fazenda Lágea Formosa, no município de São Rafael, no Rio Grande Norte, de propriedade daquele Coronel. Conta ele que Antonio Silvino e alguns “cabras” chegaram à fazenda e “solicitaram ajuda” em dinheiro. O Cel. juntou o solicitado e entregando-o ao cangaceiro, solicitou que não fosse molestada a sua família pois sua esposa estava prestes a dar à luz. Antonio Silvino recebeu o adjutório e partiu dali, dizendo: “Eu não poderia atacar um homem tão bom para os pobres como o Senhor, Coronel.”

Revista GR - Lembranças de Lampião

Foto na Revista GR e capa Ed. 273
Transcrevemos a seguir o texto da correspondência encaminhada pelo Presidente da SBEC - Kydelmir Dantas - à Globo Rural, ed. 273, onde faz retificações ao artigo daquela revista tratando de assunto que diz respeito à Sociedade: Lampião e o Cangaço.

Srs. Editores da Revista GLOBO Rural.

Nós que fazemos parte da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - SBEC, com sede em Mossoró-RN e com sócios espalhados pelo Brasil, sabemos o quanto é passível de erros, más interpretações e até informações repassadas erradas para determinadas matérias, principalmente ligadas à História do Nordeste.

Na revista nº 273 - julho 2008 - a matéria LEMBRANÇAS DE LAMPIÃO apresenta algumas informações carentes de correções e/ou retificações a fazer. Por exemplo:

1 - Na citação "Eles foram perseguidos sem trégua por 16 anos (1922-1938)..."
Correção: desde 1918 que Lampião, Livino e Antonio estavam no cangaço, incorporados ao bando de Sinhô Pereira, bando este que Lampião assumiu no ano de 1920. Portanto, foram 20 anos no cangaço.

2 - "Portanto, o lema de fazer justiça... transformou Virgolino... em Lampião, o cangaceiro que começou o ofício vingando a morte do pai ao lado de dois irmãos."
Correção: Virgolino entrou no cangaço por problemas pessoais com seu vizinho Zé Saturnino, em 1918 e não pra vingar a morte do pai – José Ferreira, que morreu em 1921, sob as balas da volante do tenente Zé Lucena. Portanto, NUNCA vingou a morte do pai, pois tanto Zé Saturnino quanto Zé Lucena morreram muitos anos depois de Virgolino.

3 - "As roupas do bando eram costuradas por Maria Bonita e outras mulheres..."
Correção: Dadá é que foi considerada a 'estilista do cangaço'. Ela era quem costurava as roupas do seu marido Corisco e passou a enfeitar os bornais, cartucheiras e chapéus dos demais amigos do cangaço. A partir daí é que as outras mulheres passaram a seguir seu exemplo.

4 - "Foi a extrema preocupação com a imagem, inclusive, que o levou a contratar o mascate..."
Correção: Benjamin Abrahão não foi contratado para documentar as atividades do bando. Desde 1934 ele tinha conseguido uma carta, tipo salvo-conduto, do Padre Cícero para ir ao encontro do bando de Lampião e filmá-lo, o que fez em 1936. Com a ajuda do Albuquerque da ABA Filmes de Fortaleza, levou máquina filmadora e de fotografias, fazendo o maior acervo iconográfico do cangaço que ora existe.

5 - A foto : "MARIA BONITA, ainda em trajes civis, ao lado de Virgolino, já cangaceiro afamado e temido."
Correção: Nesta foto o cangaceiro que se apresenta é o JURITI, que se vestia à moda cangaceira e usava óculos pela admiração que tinha ao seu chefe maior.

No mais, parabéns pela matéria e pela seção cultural desta bela revista.

Kydelmir Dantas
SBEC - Mossoró - RN

O Incrível Mundo do Cangaço

Antonio Vilela de Souza
Clique na figura para ampliar.

Lampião - A Medicina e o Cangaço

Leandro Cardoso Fernandes
&
Antonio Amaury Corrêa de Araújo
Clique sobre a figura para ampliar.

Nas Garras de Lampião

O pesquisador Raimundo Soares de Brito lança em nova edição, revista e ampliada, o Diário do Coronel Gurgel

Capa do Livro

Publicado no ano de 1996, o livro “Nas Garras de Lampião” de autoria do pesquisador Raimundo Soares de Brito, volta às livrarias com nova roupagem, em edição de ‘peso’, revista e ampliada. O livro conta a história, minuciosamente, do prisioneiro Antônio Gurgel do Amaral que ao se ver preso pelo bando do famigerado cangaceiro Virgolino Ferreira da Silva – o Lampião, escreveu durante o tempo em que esteve refém, um diário que tempos mais tarde foi publicado em jornais do Rio de Janeiro, sendo considerado um dos mais sérios documentos a respeito da passagem do bandido por essas glebas.

O escritor Raimundo Nonato, autor de “Lampião em Mossoró”, já havia publicado, anteriormente, o diário do coronel Antônio Gurgel no seu livro, mas não deu o destaque merecido, porém daí surgiu a idéia de Raibrito, como é mais conhecido, escrever “Nas garras de Lampião”.

Seu trabalho maior, além das notas de pé de página, foi colher depoimentos de pessoas que participaram, na época do ataque, na defesa da cidade. Nomes como Francisco Pinto, Manoel Duarte, Homero Couto, e outros aparecem na obra do pesquisador. São contribuições valiosas que tendem a ‘desmascarar’ quem, realmente, matou Colchete e alvejou Jararaca.

Raibrito acrescentou ainda nesta edição vários novos artigos sobre o grupo de Lampião. Dentre os colaboradores está, também, o pesquisador Antônio Kydelmir Dantas de Oliveira, que nos brinda com alguns artigos, sendo um Especial, sobre a “Influência no Cangaço no RN nos diversos gêneros da arte”, o que vem enriquecer mais ainda a obra de Raibrito.

A Coleção Mossoroense, em parceria com a Fundação Vingt-un Rosado, teve a idéia de reeditar “Nas Garras de Lampião”, tendo em vista que é um assunto por demais histórico e que a obra estava esgotada.

Brito teve ainda o cuidado de checar todas as informações antes do trabalho ir para a gráfica, mas diz ele “a verdadeira História de Lampião, ainda está para ser contada”, pois, acrescenta, “nem tudo foi dito a respeito dele (Lampião)”.
Sem data ainda definida para fazer o lançamento da obra, e apesar de ser avesso a tal, Raimundo Brito define seu trabalho como um marco na bibliografia do cangaço no Rio Grande do Norte.

Cangaço e Misticismo

Ângelo Osmiro Barreto (*)
Arte: Xilogravuras: José Pacheco & Inventum Design e Soluções Gráficas

Cangaço e misticismo são temas genuinamente ligados às coisas nordestinas, ao sertão. O homem sertanejo que viveu no final do século XIX e início do século XX conviveu sobremaneira com místicos e cangaceiros. Produtos da mesma cultura, vítimas de igual opressão.

A fome e a miséria, que aumentavam com as secas, faziam com que se manifestassem dois tipos de reação: a formação de grupos de cangaceiros com armas nas mãos, assaltando fazendas, saqueando comboios, cidades e vilas; e seitas de místicos, geralmente em torno de um beato ou conselheiro, para implorar dádivas aos céus e pedir perdão pelos pecados. O fanático, em geral, era um homem que aprendeu a respeitar os santos, temer a Deus, praticar a virtude, ser justo, portanto não era um alienado, como alguns possam vir a pensar.

Paulo Dantas em seu prefácio para a segunda edição do livro “Lampião” de Ranulfo Prata, diz com bastante propriedade: “Os beatos pertencem ao chamado folclore mágico, já os cangaceiros ao folclore heróico”.

O sertanejo vê no cangaceiro o anseio de justiça contra o poder político e as ordens dos coronéis. O cangaço acaba sendo uma forma de vingança. Lampião mata, depreda, incendeia, mas depois de alguns momentos reza, tira terço, ajoelha-se ao raiar do dia e ao final da tarde. A religiosidade arcaica do sertanejo é proporcional a sua valentia. O místico anda ao lado com o cangaço.

Não podemos falar em misticismo sem citar Padre Ibiapina, Antonio Conselheiro, beato José Lourenço e padre Cícero, (para citarmos os mais importantes), todos cearenses, exceto José Lourenço, nascido nas Alagoas.

Porém o acontecimento místico que talvez esteja mais ligado a nós, principalmente pelo legado que nos deixou, seja o do venerável padre Cícero Romão Batista, ao qual daremos destaque.

Cearense nascido no Crato, ordenou-se no seminário da Prainha, em Fortaleza no Ceará. Voltando a seu torrão natal, instalou-se em um povoado chamado Joazeiro, até então distrito do Crato. Naquela ocasião Joazeiro era um pequeno arruado com algumas poucas choupanas e uma pequenina capela.

No ano de 1889, na primeira sexta feira de março, a beata Maria de Araújo caiu em transe ao receber a hóstia das mãos do padre Cícero, fato repetido várias vezes. É dito também que as hóstias sangraram. A noticia se espalha, não só no Cariri, mas em todo sertão nordestino. Multidões acorrem a Joazeiro para presenciar o milagre. A Igreja interpreta a situação como uma ameaça a seu poder.

Anos depois o padre é acusado de acoitar cangaceiros. Uma das maiores polêmicas envolvendo o famoso reverendo do Juazeiro se deu no ano de 1926. Em maio daquele ano, Lampião e seu bando adentraram ao Juazeiro. O convite havia partido do Dr. Floro Bartolomeu da Costa, médico baiano radicado em Juazeiro e uma espécie de braço político do Padre Cícero. O motivo seria que Lampião e seu grupo dessem combate a Coluna Prestes. Para tal, Lampião receberia uma patente de Capitão do Batalhão Patriótico. O Dr. Floro Bartolomeu é acometido de doença grave e é levado ao Rio de Janeiro, vindo a falecer.

O padre recebe o cangaceiro, e para outorgar as patentes prometidas, de forma até bizarra, convoca o Sr. Pedro Albuquerque Uchoa, único funcionário público federal do lugar, e manda redigir e assinar as patentes de capitão para Virgulino e de tenentes para Sabino Gomes, seu braço direito, e Antonio Ferreira, seu irmão. Pedro Albuquerque, depois chamado para se justificar no comando Militar do Recife, teria dito que naquela hora, com aquelas feras a seu lado assinaria até a deposição do presidente Arthur Bernardes, quanto mais uma patente de capitão para Lampião.

O padre Cícero iria ainda viver muitos anos, aumentando seu prestígio perante a população carente do nordeste. Quando de sua morte em 1934, Juazeiro já havia crescido muito, continuando a crescer depois dela, sempre na sombra daquele reverendo tão amado pelo povo humilde do sertão. Pediu para que os romeiros não deixassem de vir ao Juazeiro, mesmo depois de sua morte, e a prova está aí, hoje Juazeiro do Norte é uma das cidades brasileiras mais procuradas, quando o assunto é romaria.

Durante a perseguição que sofreu de alguns setores da Igreja, após os pretensos milagres, profetizou: “Chegará o tempo em que a própria Igreja vai me defender”, e esse tempo já chegou, como vimos a poucos dias uma comissão de clérigos, autoridades e políticos, dentre eles o governador do Ceará, foi ao vaticano reivindicar a reabilitação do padre Cícero.

Cangaceiros e beatos são as duas faces da mesma moeda, habitantes de um sertão carente de tudo, principalmente de justiça. Com armas nas mãos, os cangaceiros. Com terços, os beatos. Cada um a sua maneira lutava contra as intempéries sofridas, contra secas periódicas que arrastavam consigo a miséria e a fome, além dos poderosos coronéis com suas leis impostas através da força e do trabuco. Como forma de resistência tinha duas opções: lutar, tornando-se um cangaceiro, ou ainda orar por dias melhores tornando-se um beato, conselheiro ou simples seguidor de um deles.

(*) Escritor e pesquisador do Cangaço. Membro efetivo da SBEC.

Uma Cruz Na Beira na Estrada

Honório de Medeiros (*)

A cruz de aroeira, carcomida pelo tempo teria quase oitenta anos, repousa sob uma plataforma de tijolos grosseiros que alguma alma caridosa houve por bem construir à margem da muito antiga Estrada do Cajueiro, que liga Limoeiro a Mossoró. Originariamente, percebe-se facilmente, a cruz estava plantada diretamente no solo calcário.

Hoje inclusive existe uma pequena cavidade por trás da cruz, construída com tijolos, talvez para receber velas. Um pouco à esquerda, uma oiticica centenária zomba da fragilidade humana derramando sua sombra testemunha daquele dia fatídico. Mais além, um denso mar de algarobas, marmeleiros, juremas, mufumos, todos acinzentados pelo pó que o vento quente revolve, dá uma precisa noção do tipo de homem que é capaz de enfrentá-lo: o sertanejo!

Ali estava sepultado um tipo de sertanejo que já não existia mais. Pelo menos nos moldes de antigamente. Um cangaceiro. Menino de Ouro? Alagoano? Dois de Ouro? Ás de Ouro? Não é provável que sejam os dois primeiros, por que há relatos de fontes primárias quanto à presença deles em episódios posteriores envolvendo o cangaço. A dúvida é: qual dos dois? Dois de Ouro ou Ás de Ouro? Se obedecermos à ciência, que nos manda respeitar o testemunho de quem presenciou os fatos, a tendência é que tenha sido Dois de Ouro.

Naquele dia fatídico, fugindo a passo acelerado de Mossoró, onde perdera Colchete e Jararaca, Lampião carregava consigo, tomado por dores cruciantes, esse cangaceiro que teria sido atingido por uma bala que lhe destruíra o nariz. Lampião já parara em uma casa humilde - esse episódio é por demais conhecido - e obtivera água e sal para lavar o ferimento. Coberto de sangue, com a cabeça envolvida por um lenço sujo, o cangaceiro, entretanto, não conseguia continuar.

E, à sombra da oiticica, decidiu morrer. Pediu que lhe matassem, não queria continuar. Após muita discussão um seu companheiro o executou e sepultou em cova rasa.

No entorno da sepultura há muitas pedras-calcário. São pedras milenares. Testemunharam tudo. Pudessem relatar o que viram e ouviram contariam a nós acerca daquele momento tenebroso. Saberíamos, talvez, quem de fato teria sido o cangaceiro executado a pedidos. Diriam a nós um pouco mais acerca desses homens-feras que não temiam a morte, a sede, a fome, caminhadas sem fim por sobre um chão inóspito, debaixo do sol inclemente, fendendo a braçadas a caatinga áspera. Não temiam os inimigos naturais - as volantes, os "macacos", a resistência, quando havia, dos habitantes do Sertão a quem atacavam. Não temiam a traição permanente dos coiteiros e coronéis com os quais constituíam essa página da história do Brasil recém saído da monarquia. Não temiam nada.

Para esse cangaceiro desconhecido deixamos nossa perplexidade, algumas orações, muitas perguntas não respondidas e uma vela acesa, solitária, com a chama a teimar em sobreviver lutando contra o vento quente do Sertão.
(*) Sócio da SBEC.

terça-feira, 29 de julho de 2008

O Cangaceiro Que Virou "Santo" e o Herói Que Não é Lembrado

Natividade Praxedes (*)
Fotografia: o túmulo de José Leite de Santana, o Jararaca.

Na história do cangaço já se ouviu falar de muitos enigmas: na beleza de Maria; na bravura de Lampião; nas injustiças e violência dos coronéis; no banditismo como fenômeno universal; nas polícias e seus integrantes disfarçados de cangaceiros, usando da mesma ferocidade; no clima de violência em todo o sertão nordestino; na música “Mulher Rendeira”. O que não falta na história do cangaço nordestino são contradições, uma hora são heróis, outra são bandidos e até mesmo "santo" fazedores de milagres, mitos que inspiram poemas, músicas, livros e a bela literatura de cordel. Mas com absoluta certeza, cangaceiro virar santo! Nessa, Mossoró também é pioneira.

O jornal Gazeta do Oeste em 12 de junho de 1994 publicou uma entrevista com o bioquímico, e hoje Assessor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), Paulo Medeiros Gastão, onde o Jornal perguntava sobre o fato da devoção hodierna à Jararaca quando muitas pessoas acham que ele obra milagres e a visão do pesquisador, respondeu: "A história do milagre se confunde muito com o misticismo, com a conduta cultural de um povo. Jararaca, apenas foi consagrado, por conta de sua bravura. O povo sempre busca o menor para enaltecê-lo. Nós sentimos isso no próprio cemitério, quando o túmulo de Rodolfo Fernande, não recebe o mesmo número de visitas correspondentes ao túmulo onde está Jararaca".

Leiamos as informações contidas na Revista Preá: “Enquanto o túmulo do cangaceiro Jararaca é simples e pequeno o de Rodolfo Fernandes é suntuoso, com aproximadamente cinco metros de altura por quatro metros de largura, localizado bem defronte à capela do cemitério.”

Mas, a grande diferença entre os dois túmulos são as visitas recebidas: o túmulo de Jararaca recebe centenas, a toda hora do dia. Pesquisadores, estudantes, curiosos, pessoas pagando promessas, fruto da crendice popular de alguns; o sincretismo religioso é tão grande que dona Maria Dalva, de 72 anos de idade, relatou que já recebem muitas graças por interferência do cangaceiro Jararaca. Conta que, “vítima de ‘trabalhos feitos’ por sua rival passou a sentir grandes dores nas pernas; pediu para sua filha ir até ao túmulo do cangaceiro ‘santo’ pegar um pouco de terra, prometendo a devolução logo que ficasse boa, recebeu a graça e ficou fazendo sempre que precisa de um novo ‘milagre’.” Confidenciou-me que estava ali para pegar mais um pouquinho de terra para um novo milagre e só não ia fazer porque tinha muita gente em torno do túmulo e tava com vergonha, mas na semana ela voltaria em busca.

A aposentada, dona Raimunda, de 57 anos de idade, também devota sua fé ao "santo" milagreiro Jararaca. Em seu relato afirma: “Tenho muita fé e já alcancei muitas graças. Quando eu morava em Areia Branca meu marido ficou paralítico, pedi uma ‘graça’ a ele e no outro dia meu marido chegou na cozinha andando. Então passei a visitar o túmulo de Jararaca todos os meses.” O que chamou-nos atenção foi o modo emotivo de dona Raimunda pois ela chorava ao fazer suas preces. E muitos outros relatos foram feitos no decorrer daquele dia 02 de novembro de 2007.

Já o túmulo de Rodolfo Fernandes - o grande responsável pela resistência de Mossoró ao ataque do bando de Lampião, naquele 13 de junho de 1927 - parecia um pouco esquecido. Em lugar das muitas flores e velas, que sobravam no túmulo de Jararaca, só alguns papelões esquecidos perto da cruz e um homem sentado ao pé do túmulo somente pra descansar. Podemos dizer com segurança que a idolatria ao cangaceiro é muito grande, mas maior é o esquecimento ao herói da resistência .

Em Mossoró tudo lembra aquela data, quando nos referimos a Cangaço: o chapéu de aba virada pra cima, as alpercatas em couro, o artesanato, as músicas, a literatura de cordel, que está sempre contando coisas novas do acontecimento. Até nas horas do laser porque não lembrar do bando de Lampião? No Centro de Artesanato do Município de Mossoró tem duas belas estátuas: uma de Maria Bonita e a outra de Lampião.

Enquanto que, para Rodolfo, o herói da resistência mossoroense, sobrou apenas o nome em rua e praça, além da encenação do espetáculo – agora um musical – “Chuva de Bala no País de Mossoró”; talvez porque esses espetáculos rendam a Mossoró hotéis lotados e o turista aplaudindo a municipalidade.

O Povo de Mossoró até poderia resgatar o valor heróico e o arrojo do prefeito Rodolfo, mas prefere criticar, ouvir alguns cidadãos dizendo que: “seria melhor ter dado a quantia que Lampião pediu a ter que gastar tanto com espetáculos teatrais e bandas de forrós o mês inteiro, perturbando o sono de muitos mossoroenses, que preferiam não ouvir tantas músicas sem qualidade”.

Infelizmente a leitura não é hábito de muitos. É preciso que conheçam mais sobre os fatos histórico. "O coronel Rodolfo Fernandes era um homem de arrojadas iniciativas de caráter urbanístico, iniciou o calçamento de algumas ruas, construiu o primeiro jardim público de Mossoró, defendeu a cidade do bando de cangaceiros. Faleceu a 11 de outubro de 1927 , deixando como legado o exemplo de homem de visão, pioneiro e libertador , digno das mais altas homenagens do povo de Mossoró" (Geraldo Maia no artigo "Um Cidadão Chamado Rodolfo Fernandes"). O que o prefeito não visualizou foi que no dia de finados teria tanta gente idolatrando o cangaceiro e um poeta popular procurando o túmulo do verdadeiro herói da resistência de Mossoró.

Na minha humilde opinião gostaria que o leitor amigo meditasse um pouquinho sobre o paradoxo que existe entre o bandido que virou "santo" e o herói que ficou esquecido. O povo acredita na crueldade de Jararaca mas mesmo assim reza e pede graças; o povo acredita no ato heróico na bravura cívica do prefeito Rodolfo Fernandes, mas vê seu ato como uma obrigação na defesa da cidade. Já com Jararaca, existe o mito que foi enterrado vivo, e que, segundo alguns estudiosos, ele não teve nem tempo de pensar, imagine de pedir perdão; mas, para o povo nordestino, a fé é a esperança para vencer as dificuldades da vida muitas vezes tão sofrida.

Acredito que o misticismo e sincretismo religioso estão muito relacionado com a situação econômica e o nível de escolaridade que ainda sufoca os gritos de liberdade das massas despossuídas.

(*) Professora de História e Cultura Religiosa, sócia da SBEC.

Entrevista: Luitgarde Barros

Arte: "Pajeú, O Temido Chefe Guerrilheiro" - Técnica mista sobre papel de Tripoli Gaudenzi
Ilustra a capa do Livro de Luitgarde Barros, "A Derradeira Gesta - Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão".

Antropóloga e professora da Uerj, Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros é pessoa de fino trato e sem meias palavras. Simpática e educada, não tergiversa quando é pra defender suas posições e princípios. Envolveu-se com o tema do cangaço por razões pessoais - em 1927, antes de seu nascimento, sua mãe foi feita refém do grupo do cangaceiro Lampião no município de Santana do Ipanema (AL) - ela levanta dados em sua pesquisa que negam a versão até hoje cultivada em universidades brasileiras. No seu livro “A Derradeira Gesta: Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão” (editora Mauad - 2000), que recebeu uma indicação para o prêmio Jabuti, Luitgarde reúne todos os detalhes para desmistificar Lampião. Nega, portanto, que o assassinato do pai de Lampião, José Ferreira, em 1921, pelas mãos do coronel (então tenente) Lucena, teria sido o motivo que conduziu Virgulino ao cangaço. Encontramo-nos em Fortaleza (CE), num Seminário do Cangaço, na Unifor. Depois, por correio eletrônico, fizemos esta entrevista.

Kydelmyr Dantas

O Mossoroense - Professora, como vosmecê, permita-me tratá-la assim, contesta a entrada de Lampião no cangaço?
Luitgarde Barros - Apoiada na literatura antropológica sobre o cangaço, em acervos de documentos e entrevistas, constatamos que Lampião era membro de uma família de pequenos proprietários e que entrou na vida do crime ainda na adolescência. O cangaço do século XX não é de origem pobre, mas nasce de proprietários remediados, comerciantes e donos de tropas de cavalos e burros. O próprio Virgolino Ferreira, antes de tornar-se Lampião, possuía terras e animais. Mas ainda jovem, em 1916, começou a agir como cangaceiro, sendo cabra dos Porcino, os irmãos Pedro, Antonio e Manuel Porcino, uma família que agia em Alagoas, sendo perseguida no sertão, por seus ataques nas estradas, principalmente nos dias de feira.

OM - Em "A Derradeira Gest" vosmecê apresenta detalhes para desmistificar Lampião. Como vem a ser isto?
LB - Tenho documentos de cartório mostrando a perseguição de Lampião quando ele ainda era membro do grupo dos Porcino. Virgolino Ferreira vivia uma vida dupla, antes de se entregar definitivamente ao cangaço, em 1922. Em Pernambuco, ele era um proprietário, com sua tropa de burro, e fazia comércio com a vizinhança. Mas como era exímio cavaleiro, percorria as regiões próximas e chegava em Sergipe e na Bahia como almocreve. Em Alagoas praticava crimes. Aí Virgolino dava lugar ao cangaceiro. Sua metamorfose se dava no interior dos municípios de Santana do Ipanema e Mata Grande.

OM – Então, é baseado nesta vida dupla que se pode dizer do real motivo das várias mudanças dos Ferreira, desde Pernambuco até Alagoas, e a conseqüente morte do patriarca José Ferreira?
LB - Eu não diria que José Ferreira foi o patriarca dos Ferreira, porque ele perdeu totalmente a autoridade sobre os filhos, ficando a reboque de suas decisões. Essa série de crimes em que Lampião se envolve, como invasões a cidades e troca de tiros, é o caminho que conduz seu pai à morte. Em 1921, Lampião vai com os Matilde para um lugarejo em Alagoas chamado Pariconha e lá eles matam um rapaz cego de 15 anos e promovem uma série de roubos. Depois, escondem o produto do saque em uma pequena fazenda próxima onde o pai dele estava vivendo, o que atrai o tenente Lucena ao local, já que desde o tempo dos Porcino esse policial vivia nas caatingas do sertão de Alagoas perseguindo cangaceiro. Como entrou atirando, esperando surpreender Lampião, Lucena acabou matando José Ferreira, um homem pacífico que, segundo a tradição oral daquela região, estava debulhando uma espiga de milho, não estando sequer armado. Como um filho expõe um pai dessa maneira?


OM - Mas, analisando os autores da bibliografia cangaceira, pelo menos 90% não creditam a entrada de Lampião no cangaço pra vingar a morte do pai?
LB - Lampião apelou para o código sertanejo de vingança para justificar suas ações. Essa legitimação dos próprios atos utilizando elementos da cultura sertaneja, como valentia e obrigação de vingança, para limpar manchas desonrosas ou corrigir injustiças, foi amplamente utilizada por todos os cangaceiros, principalmente Lampião. O atestado de óbito de José Ferreira se encontra no Cartório de Água Branca, sertão de Alagoas. Por que só Billy James Chandler e eu fomos até lá ler a documentação? Estão lá as descrições sobre os Porcino (sobrenome - Lacerda).

OM - Mesmo se levarmos em consideração que Virgolino não matou nenhum dos seus principais inimigos: Zé Saturnino e Zé Lucena. Desde quando Lampião começa a se envolver com os coronéis?
LB - A partir de 1922, já com seu próprio bando, ele passa a se envolver com os coronéis em sua atividade pelo sertão. Os grandes protetores dele são desembargadores, juízes de direito e altos industriais. Além da corrupção nas forças legais: Quando um destacamento policial ia perseguir os cangaceiros, eles eram avisados por membros corruptos. Por isto os Nazarenos exigiram do governador de Pernambuco, quando criaram suas próprias volantes, que só eles escolheriam seus companheiros de campanha, denunciando traições praticadas contra policiais que não pertenciam à indústria do cangaço.


OM - Lendo sua obra vemos o registro de nomes de juízes e políticos que recebiam o cangaceiro em suas residências e o apoiavam para que suas terras fossem poupadas. Por exemplo, o então interventor do estado de Sergipe, Eronildes de Carvalho. Certo?
LB - Eronildes chegou a lhe fornecer armas. Existem entrevistas em que Eronildes afirma ter dado uma pistola para ele, negando ter lhe vendido armamentos. Ele foi o principal protetor de Lampião. Veja meu livro, páginas 184 a 187.

OM - Como esta relação de "amizade" entre Virgulino Ferreira e os grandes proprietários de terra é explicada?
LB - Era um jogo de interesses. O esquema fazia com que Lampião atacasse apenas os adversários de seus padrinhos. Depois os grandes proprietários compravam por quase nada as terras dos concorrentes arrasadas por ele. Assim, eles refazem o latifúndio do Nordeste. Muitas viúvas entregaram suas terras, depois do ataque que matou seus maridos, pelo dinheiro da passagem e fugiram para São Paulo, salvando os filhos.

OM - Mas, esse sistema de favores beneficiava apenas Lampião?
LB - Não só a ele. Alimentava a "indústria do cangaço". Ele assaltava os pequenos e médios proprietários e esse dinheiro era usado para comprar armas, munição e polícia corrupta. Mas quem poderia vender armamento para ele sem ser punido? Só pessoas muito importantes tinham o monopólio do comércio com o cangaço. E como Lampião não poderia regatear preço com o poderoso, já que só este lhe poderia vender armas, era obrigado a continuar a vida de crimes para pagar os altos preços cobrados. Suas requisições de dinheiro a cidades ou pessoas cresceram tanto, que o montante roubado do trabalho dos sertanejos, num ano, correspondia aos gastos da Intendência (atual Prefeitura) do Rio de Janeiro, Capital da República, com saúde e educação.


OM - E estas 'verbas', para a 'indústria do cangaço' provinham de onde?
LB - Alimentada pelo governo federal, essa "indústria" do banditismo chega ao fim em 1938, por questões econômicas. Naquele ano, o presidente do recém-criado Instituto do Açúcar e do Álcool, o pernambucano Barbosa Lima Sobrinho, informa aos governadores de Alagoas e Pernambuco que a verba para o subsídio da produção açucareira, que já vinha sendo dada aos usineiros sulistas desde 1917, no Nordeste vinha sendo destinada ao combate ao cangaço e ao nunca pago ressarcimento das vítimas. E que isso teria de acabar! Depois dessa notícia, o governador de Alagoas, Osman Loureiro, incumbe o coronel Lucena de comandar o extermínio do bando de Lampião em um período de um mês. Lucena convocou seus homens e afirmou que se eles não cumprissem a tarefa no prazo seriam demitidos, respondendo Lei Marcial. Em 30 dias acabou o cangaço, com o massacre contra o grupo do cangaceiro ocorrido em julho de 1938, na Grota de Angico, Sergipe.


OM - Se analisarmos mais profundamente, a maioria das obras sobre o cangaço de Lampião persistem num erro histórico?
LB - Há necessidade de se corrigir este erro. Ao contrário do que se acredita, no período de Lampião as populações pobres são as mais atingidas por seus atos, enquanto as classes que o protegiam ficavam cada vez mais ricas. Esses fatos ficaram obscuros porque quando se cria um mito a primeira coisa que a imprensa faz é esconder a verdade sobre sua vida.

OM - Em nome da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - SBEC, com sede em Mossoró, da qual vosmecê nos honra em tê-la como sócia efetiva, fique à vontade para as considerações finais...

LB - Analisando a realidade do mundo contemporâneo ressalta a permanência da miséria que avilta e joga seres humanos sem perspectiva de vida social digna nos planos assassinos dos que vivem do sangue, do trabalho e da morte dos filhos de Deus! Se o Padre Mestre Ibiapina, o maior de todos os nordestinos nascidos no sertão, estivesse hoje redivivo, tornaria a bradar aos homens de bem deste país: NÃO HÁ JUSTIÇA ENTRE OS HOMENS!

segunda-feira, 28 de julho de 2008

O que é a SBEC?

A Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço foi fundada em 13 de junho de 1993, data aniversário que lembra a entrada de Lampião e seu bando na cidade de Mossoró (RN).
É uma entidade sem fins lucrativos que coordena um maior entrosamento entre os pesquisadores, escritores e artistas brasileiros que estudam e divulgam o Nordeste.
Assuntos como Cangaço, Coluna Prestes, Canudos, revoltas: Praieira, Balaiada, Cabanagem e Quebra-Quilos; Juazeiro, Padre Cícero, Delmiro Gouveia e o progresso do nordeste, Quilombos, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e a Música Popular Nordestina; a Cultura e a Arte nordestinas são prioridades nos estatutos da SBEC para debatermos e divulgá-los em eventos, no Brasil e no exterior.

Quem são os seus integrantes?
Escritores, Pesquisadores, Poetas, intelectuais e alunos que se interessam pela pesquisa hitórico-sociológica do Nordeste e do Brasil.

Qual a abrangência desta entidade?

Inúmeros segmentos da sociedade cultural, no âmbito das pesquisas em vários Estados do Brasil, com sócios espalhados por este País continental.

O quê é necessário para se tornar sócio da SBEC?
Para ser sócio da entidade precisa ter trabalhos apresentados, artigos e/ou livros publicados, dentro dos diversos temas que permeiam a mesma. O pretendente deverá ser apresentado por um sócio efetivo e seu nome aprovado por, pelo menos, 5 outros sócios.

Quem faz parte de sua Diretoria?

A Diretoria para o biênio de Dez/2010 a Dez/2012 está assim composta:

Presidente: Lemuel Rodrigues da Silva – Mossoró (RN)
Vice Presidente: Múcio Robério Procópio de Araujo – Natal (RN)
1º secretário – Francisco de Assis do Nascimento – Mossoró (RN)
2º secretário – Maria da Natividade Praxedes – Caraúbas (RN)
1º tesoureiro – Francisco das Chagas do Nascimento – Mossoró (RN)
2º tesoureiro - Antônio Vilela de Souza – Garanhuns (PE)

Conselho Consultivo

Antônio Kydelmir Dantas de Oliveira – Nova Floresta (PB)
Manoel Severo Gurgel Barbosa – Fortaleza (CE)
Manoel Alves do Nascimento Filho – Mossoró (RN)
José Paulo Ferreira de Moura – Recife (PE)
Antonio Tomaz Cisne Mesquita – Fortaleza (CE)

Presidente do Conselho:
Manoel Alves do Nascimento Filho

Onde é a sede da SBEC?

Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
Museu Histórico Lauro da Escóssia
Praça Antonio Gomes, s/n.
59610-150 – Mossoró (RN)
Telefone (84) 3315-4778
Site Oficial da SBEC:

Estatutos da SBEC

Clique sobre as imagens para ampliá-las.

Revista AH - Lampião - A Morte do Herói

Transcrevemos a seguir o texto da correspondência encaminhada pelo Presidente da SBEC - Kydelmir Dantas - à Revista Aventuras na História, onde faz retificações ao artigo daquela revista tratando de assunto que diz respeito à Sociedade: Lampião e o Cangaço.

Caríssimos Editores da Aventuras na História.
Primeiramente, parabéns pela excelente matéria "Lampião - A morte do Herói", na AH edição 60 - julho 2008.
Além do valor literário-informativo que vem nesta, há a qualidade nas colorizações das fotos de lampião e seu bando... Mais uma vez, parabéns!
Nós que fazemos parte da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - SBEC, com sede em Mossoró-RN e com sócios espalhados pelo Brasil, sabemos o quanto é passível de erros e más interpretações determinadas matérias, principalmente ligadas à História do Nordeste. No entanto, seria incomum se não houvesse algumas correções e/ou retificações a fazer... poucas, mas há.
Por exemplo:
- Na cronologia "A Saga de Lampião na Caatinga": "1920 - José Ferreira é morto. Virgulino e 3 irmãos entram para o cangaço (Ezequiel, Levino e Antônio)".
Consta, em boa parte da bibliografia, inclusive nas indicadas pela AH na seção "Saiba Mais", que a entrada de Lampião, Antônio e Levino no Cangaço deu-se devido às brigas entre estes e Zé Saturnino, a partir de 1918. Portanto, quando José Ferreira morreu, os filhos já estavam no cangaço. Posteriormente, em 1926, Ezequiel entrou no bando de Lampião, juntamente com o cunhado Virgínio Fortunato... ambos receberam apelidos: Ponto Fino e Moderno, respectivamente.
- Em "Bonnie e Clyde do Sertão", sobre as mulheres cangaceiras, cita: "Elas também só faziam amor, não faziam a guerra; à exceção de Sila, mulher do cangaceiro Zé Sereno..."
Em seu livro "Memórias de Guerra e Paz", e nos vários depoimentos que deu a pesquisadores, jornais e revistas, Ilda Ribeiro de Souza, a Sila, nunca disse que pegou em armas para combater... sempre falou que, para as mulheres, os revólveres de pequeno calibre que usavam à algibeira, eram só enfeites. Porém, relata que Dadá mulher de Corisco era uma 'danada' no uso das armas. Vejamos pois esta citação, retirada do livro Guerreiros do Sol, de Frederico P. de Mello, pág. 158: "Sérgia Ribeiro da Silva - Dadá - vem a se converter na única mulher do Cangaço a usar arma longa nos combates."
Em dois pontos estão colocados o nome do tenente, que comandou o ataque aos cangaceiros na Grota do Angico a 28 de julho de 1938, como JOSÉ Bezerra... Logicamente houve um erro de digitação, pois o nome deste é JOÃO Bezerra.
Em 1969 as cabeças foram finalmente enterradas, a pedido de familiares do casal mitológico - e temido - do cangaço. Desde o ano de 1965 que o Silvio Hermano de Bulhões, filho de Dadá e Corisco, começou uma campanha em prol do sepultamento dos restos mortais do pai em Santana do Ipanema (AL), levando-se em consideração uma proposição através de decreto, de um deputado baiano que conseguiu a aprovação para o sepultamento das cabeças de Lampião e Maria, o que não foi feito, nem atendendo ao decreto. Silvio ampliou esta campanha, solicitando atenção e dando entrevistas a jornais e revistas (O Cruzeiro) e obtendo o apoio da população, familiares dos outros cangaceiros e autoridades, para que fossem sepultadas as cabeças dos cangaceiros mortos no Angico e a cabeça e o braço de Cristino Gomes da Silva Cleto, o Corisco, o que foi feito no Cemitério Quinta do Lázaro, em Salvador (BA), (Ver: Lampião, Cangaço e Nordeste - págs. 432-433, de Aglae de Oliveira).
Kydelmir Dantas
(SBEC - Mossoró-RN)

Em Busca do Antídoto Contra a Violência

Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho (*)
Entre as funções do Estado, a defesa do cidadão e a manutenção da ordem interna, nunca estiveram tão questionadas e em xeque, como agora. Questiona-se a morosidade da justiça, não se acredita no aparelho estatal de vigilância e repressão, não se acredita, também, em seus políticos, não se encontra perspectivas para uma melhora na qualidade do ensino e, para piorar tudo isto, o cidadão encontra-se encurralado e entregue a sanha dos bandidos cada vez mais numerosos, armados, afoitos e violentos.
Como a reação dos órgãos responsáveis é reduzidíssima, fica-se naquela posição de que “o crime compensa” e que a punição é quase uma balela. Os bandidos, aproveitando-se da situação, com maior arrojo e aliados a uma tecnologia de ponta, não poupam o elemento fardado e nem mesmo a própria instituição responsável pela repressão.
No século passado, no Nordeste e mais especificamente em Pernambuco, nas décadas de 10 e 20, tivemos várias inversões de valores, com a tentativa, por parte dos bandidos, de se estabelecer aqui um Estado Paralelo de Poder.
A história, como é de conhecimento geral, é cíclica, ou seja, se repete em uma certa ordem. O atual CANGACEIRISMO MODERNO, high-tec e de poderio ameaçador, infinitivamente superior ao identificado no CICLO DO CANGAÇO (1870-1940), bem atesta o sentido em que se emprega o termo.
É verdade que muita água já passou por debaixo da ponte, ou seja, já se perdeu muito tempo. Os valores éticos, morais e religiosos, mudaram, infelizmente, de forma espetacular nesta sociedade tão inovadoramente permissiva. PÁTRIA, RELIGIÃO E FAMÍLIA, não são mais as principais colunas de sustentação de uma sociedade ordeira. A bandidagem reinante, fazendo apologia de “sua missão”, bem como, certos da impunidade, provocam a existência de um desgoverno paralelo, assim como foi tentado por Antônio Silvino e Lampião, no século passado. Esses atuais marginais, intimando a população com o seu modus faciendi e vivendi, alterando, assim, a lei, fazem com que o cidadão fique refém em seu próprio lar, sem a certeza que lá, ele e seus familiares, estarão a salvo das investidas dos criminosos.
Até parece que estamos vivendo os finais da nossa história aqui na Terra, onde uma personagem medonha, o ANTICRISTO, segundo o Apocalipse, aqui representado pela violência, através de grandes sinais e prodígios, enganará a todos. Não se enganem! Para se combater este estado ANTIDEMOCRÁTICO de direito, o prefixo ANTI que precisa e deve ser usado contra a bandidagem reinante é o ANTICRIMINALIDADE, solução para se opor à anarquia generalizada e a falta de uma política definitiva, por parte dos nossos governantes.
Aos olhos atentos, esse nefasto estado de coisa repete o que vivenciamos na virada do século XIX até as três primeiras décadas do XX, onde os poderosos “chefes políticos” de então, viviam as turras, em brigas sem fim e, as autoridades, pouco ou nada faziam para combatê-las. A ausência do aparelho repressor estatal provoca um vácuo no combate aos fora-da-lei, dando a nítida certeza, para aqueles malfeitores, que, repitamos, o crime compensa. Vejam se a história não está se repetindo!
É mister que a sociedade acorde do marasmo em que se encontra e provoque, de forma ordeira, os seus representantes legais para promoverem uma SUPER FORÇA VOLANTE para agirem duro contra esta lastimável situação.
Precisamos fazer valer o poder do ANTICRIMINALIDADE contra a bandidagem operante, pois, a solução para se opor a anarquia generalizada é a de imprimir uma política de combate séria e sem trégua a violência reinante em nosso país. Para tanto, não precisamos copiar experiências do Velho Mundo ou a praticada pelos Estados Unidos da América, basta, somente, darmos uma olhada no que está fazendo o nosso vizinho, a Colômbia, outrora detentora de índices inimagináveis de criminalidade em seu território. Bogotá, a capital do país, aliando a sociedade com o poder público colombiano, está conseguindo reduzir os efeitos nocivos dessa praga que é a violência criminal. Observem que lá, existem outros problemas que dificultam a execução de tal plano, a guerrilha e o enraizado e bem estruturado tráfico de drogas, mas mesmo assim estão vencendo a batalha.
Falta, ao meu ver, no caso brasileiro, portanto, além de uma reestruturação no aparelho criado para refrear a criminalidade, engajar mais um simples e fundamental elemento – A CREDIBILIDADE DA POPULAÇÃO, um dos motivos pelo qual o aparelho repressor estadual de Pernambuco, saiu-se vitorioso contra o cangaceirismo de então. Naquela oportunidade, o cidadão, observando que a luta travada pelo governo era mesmo para valer e estava atingindo os seus objetivos, passou a acreditar em seus governantes e agiram, dentro das suas limitações, como era de se esperar, ajudando na vitoriosa política Estadual contra o império da criminalidade.
A estupenda matéria jornalística, publicada no Caderno Especial, do Jornal do Commercio, de 30 de abril de 2006, intitulada MANUAL CONTRA A VIOLÊNCIA, deve ser lida por toda a sociedade, principalmente pelo universo escolar, e devidamente colocada nos anais das casas representativas do povo brasileiro.
É bom que fique claro que a violência não só se combate com violência, é preciso, antes de tudo, muita seriedade, educação (em todos os planos – doméstico, religioso e escolar), além de institucionalizar e aparelhar uma polícia cientifica a altura do modernismo alcançado pelos marginais. Pelas ações, simples e eficazes, empregadas pela Prefeitura de Bogotá, mesmo sem estar diretamente ligadas à polícia, elas nos ensinam que a palavra de ordem, aqui, deve ser, também: MAIS CIDADADANIA, MENOS CRIME. Resta-nos, portanto, lembrar e cobrar às autoridades constituídas: CADÊ A DISCIPLINA MORAL E CIVISMO? e, finalmente, CADÊ O NOSSO PLANO BRASIL?

(*) Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho - Diretor de Pesquisa e História da União Brasileira de Escritores, seccional de Pernambuco – UBE-PE, Núcleo Cel. Carlos Ferraz. Membro do Centro de Estudos da Historia Municipal da CONDEPE/FIDEM. Sócio da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço – SBEC. Autor dos livros: "Pernambuco no Tempo do Cangaço" e "Theophanes Ferraz Torres", um bravo militar. (1894-1933).

O 13 de Junho para Mossoró

Geraldo Maia do Nascimento (*)
Arte: Franklin Serrão
Em 13 de junho de 2007, Mossoró comemorou 80 (1) anos da resistência do seu povo ao bando de Lampião, ocorrido em 1927. Sobre o ataque dos cangaceiros e a heróica defesa da cidade, já se falou muito; nada mais resta a contar. Queremos falar, não dos heróis da resistência, mas dos que, de repente, tiveram que abandonar suas casas impelidos pela eminente ameaça dos facínoras, que chefiados por Virgulino Ferreira, o Lampião, ameaçavam tudo destruir se não fosse atendido o seu pedido de extorsão. Eram velhos, mulheres e crianças, pessoas doentes, que não tinham nenhuma condição de enfrentar, de armas em punho, a ira dos cangaceiros.

A cena era dantesca desde o dia 12 de junho. Nas ruas, o povo tentava deixar a cidade de qualquer maneira. Mulheres chorando, carregando crianças de colo ou puxadas pelos braços, levando trouxas de roupas, comida e água para a viagem, vagando na multidão sem rumo. Era uma massa humana surpreendente que se deslocava pelas ruas da cidade na busca de transporte, qualquer que fosse o meio, para fugir antes da investida dos cangaceiros. Famílias inteiras reunidas, em desespero, lotavam os raros caminhões ou automóveis que saíam disparados a caminho do litoral. Muitos, sem condição de transporte, tratavam de conseguir esconderijo dentro ou fora da cidade. A ordem dada pelo prefeito era que quem estivesse desarmado saísse da cidade.

O desespero aumentava mais à medida que o dia avançava. Às onze horas da noite, os sinos das igrejas de Santa Luzia, São Vicente e do Coração de Jesus começaram a martelar tetricamente, o que só servia para aumentar a correria. As sirenes das fábricas apitavam repetidamente a cada instante. Muita gente que não acreditava na vinda de Lampião, só aí passou a tomar providências para a partida.

Na praça da estação da estrada de ferro era grande a concentração de gente na busca de lugar para viajar nos trens que partiam de Mossoró. Até os carros de cargas foram atrelados a composição para que a multidão pudesse partir. Mesmo assim não dava vencimento, e os retardatários, em lágrimas, imploravam um lugar para viajar.

O prefeito, o Cel. Rodolfo Fernandes de Oliveira, se desdobrava na organização da defesa, ao mesmo tempo que ordenava a evacuação da cidade, medida essa que poderia salvar muitas vidas.

Enquanto isso, a locomotiva a vapor, quase milagrosamente partia, resfolegando com o peso adicional, parecendo que ia explodir, tamanho o esforço feito pela máquina que emitia fortes rangidos e deixava um rastro de fumaça negra no horizonte. Era uma viagem relativamente curta, entre Mossoró e Porto Franco, nas proximidades da praia de Areia Branca.

Na cidade, o badalar dos sinos continuava e o desespero também, pois apesar da pequena distância que o trem deveria percorrer, a locomotiva demorava mais do que o normal para chegar, com o maquinista parando com freqüência para se abastecer de água e lenha pelo caminho. Saía de Mossoró com todos os carros lotados e voltava vazio. Era um verdadeiro êxodo.

Na noite do dia 12 de junho, não houve descanso para ninguém em Mossoró. Os encarregados pela defesa da cidade se revezavam na vigília, enquanto o restante da população esperava a vez de partir. E o movimento na estação ferroviária não parava. O embarque de pessoal virou toda a noite e só terminou na tarde do dia 13 de junho, dia de Santo Antônio, quando foram ouvidos os primeiros tiros, dando início ao terrível combate. Mas a meta havia sido alcançada; a cidade estava deserta.

Não foi um combate longo; iniciou-se às quatro horas da tarde, aproximadamente, sendo os últimos disparos dados por volta das cinco e meia da mesma tarde. Lampião havia fugido, deixando estirado no chão o cangaceiro Colchete e dando por desaparecido o Jararaca, que depois seria preso e “justiçado” em Mossoró. Mas com medo da revanche dos bandidos, os defensores permaneceram de plantão toda a noite, só descansando no outro dia, quando tiveram certeza que já não havia mais perigo.

Quando lembramos esses fatos, ficamos pensando que tragédia poderia ter acontecido se a cidade não houvesse sido esvaziada a tempo. Quantas mortes poderiam ter havido se a população tivesse permanecido na mesma. Só Deus pode saber.

Depois do acontecido, a população começa a voltar para casa. É outra batalha para se conseguir transporte, juntar os parentes, desentocar os objetos de valores que tinham ficado escondidos e tantas providências mais, que só quem viveu o drama poderia contar.

13 de junho, dia de Santo Antônio. Um dia que ficou marcado para sempre na história de Mossoró.

(*) Geraldo Maia do Nascimento, mossoroense, autor do livro "Fatos e Vultos de Mossoró", é bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço – SBEC, do Instituto Cultural do Oeste Potiguar – ICOP, sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN, sócio da Poema – Poetas e Colaboradores de Mossoró, e colaborador do jornal O Mossoroense, onde mantém uma coluna semanal sobre a História de Mossoró.
(1) Adaptado.

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