SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Mário Souto, Eternamente Maior

Renato Casimiro (*)

Só há pouco tempo eu me aproximei de Mário Souto Maior. Foi quando desejei conhecê-lo pela publicação naquele ano de 1999, de um ótimo trabalho – Padre Cícero Romão Batista: Algumas referências bibliográficas, em parceria com Lúcia Gaspar. Ele trabalhava dirigindo o departamento de folclore da Fundação Joaquim Nabuco-FUNDAJ, no Recife, próximo do velho e saudoso recanto de Apipucos, sob a inspiração sempre presente de Gilberto Freyre. Eu já havia lido duas de suas obras consagradas: “Cachaça” e “Dicionário Folclórico da Cachaça”, dois livros ótimos que consulto com freqüência, principalmente para, como se diz, desopilar. Assim, foi numa destas passagens pelo Recife que fui procurá-lo. Encontrei-o em seu gabinete e me recebeu tão festivamente, me enchendo as mãos de livros e de tanta generosidade. Ficamos amigos e trocávamos correspondência com grande freqüência. Por sua imensa gentileza fui incluído no seu Dicionário de Folcloristas Brasileiros.
Um dia ele me vem com uma provocação. Estava produzindo uma série infantil, uma coleção chamada de “Aprender Brincando”, cujos textos saiam com a denominação de “Um menino chamado...” Aí já havia editado três, sobre Gilberto Freyre, Hélder Câmara e Joaquim Nabuco. Sairiam outros sobre Capiba, e diversos personagens da vida brasileira. Ele desejava que esta iniciativa viesse a plantar na mente das crianças, a quem a coleção era dirigida, com linguagem acessível, informações sobre a vida de brasileiros ilustrados que, nas artes, e nas letras, elevaram o nome de nossa pátria.
Numa carta ele me pedia para criticar e corrigir o texto que seria “Um menino chamado Cícero Romão Batista”. Eu fiquei muito sem jeito, mas não me furtei de ajustar alguma coisa, de pouca monta, para maior fidelidade da narrativa, pois a idéia e o roteiro já me conquistavam. Ele me confessou que estava feliz com o resultado e, finalmente, o título foi incluído para uma publicação que viria, pela ordem, talvez depois de Jorge Amado, e outros que já estavam acertados.
Certo tempo depois ele me pediu para escrever alguma coisa sobre o seu conterrâneo, o artista pernambucano Inocêncio da Costa Nick – Mestre Noza. Submeti a ele um longo texto. Para minha surpresa, ele o incluiu na coletânea que a FUNDAJ publicou sobre Folclore, no ano 2001. Mais que isto, um dia sou ainda mais apanhado de susto quando recebo pelo correio uma fita de vídeo com uma gravação inédita de Mestre Noza, por 10 minutos, num documentário precioso, resgatado do acervo da FUNDAJ.
Em 14 de Julho de 2000, a intelectualidade pernambucana celebrou os 80 anos de Mário. Foi uma grande festa de que tive notícia, celebrada, principalmente no seu meio familiar, na instituição a que servia desde 1967 e pela grande legião de amigos e admiradores. Quanto lamentei não ter estado lá, para testemunhar-lhe a minha admiração e respeito. Era uma criatura de fôlego inesgotável. Tudo que lhe enviava ele fazia o registro, agradecendo e comentando. Foi do Mário que recebi um dos melhores elogios sobre a minha obra modesta, "Antes qu´eu m´esqueça", em três (3) volumes.
Voltei a vê-lo em duas outras ocasiões. Em Janeiro do ano passado estava brincalhão e me recebeu com grande alegria. Mário Souto Maior faleceu em 25.11.2001. A notícia me foi comunicada por Fátima Menezes, alguns dias depois, num telefonema que eu procurei encurtar. Pouca coisa me seria dita naquele instante que pudesse significar maior tristeza. Mário também era um poeta, filho de Bom Jardim. De um CD com seus poemas, parte da celebração dos 80 anos, escuto enquanto lembro de sua figura amável: “Poeta nunca envelhece/ Poeta não tem idade/ Porque seus anos de vida/ Não têm dia, nem têm horas/ São momentos de alegria/ São tristezas momentâneas/ Dentro da eternidade...”.

(*) É professor da UFC e sócio da SBEC.

Saiba mais sobre Mário Souto Maior AQUI.

Nenhum comentário:

acessos nos últimos 30 dias