SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O Coronelismo no Nordeste Brasileiro

Manoel Batista de Oliveira (*)
Fotografia: Coronéis Chico Heráclio e Chico Romão (in "Coronel, Coronéis" de Vilaça & Cavalcanti de Albuquerque, Ed. Universidade de Brasília - 1978)

O Coronelismo no Nordeste já teve dias melhores. A sua História se confunde com a própria política do Brasil, principalmente na Região Nordeste. A maioria deles foi oficializado e institucionalizado com as patentes da Guarda Nacional, criada em 1831. Os Coronéis mais famosos e conhecidos, por toda a nossa região, foram homens de têmpera, forjados pela canícula e as intempéries do Sertão e afins.
Com o progresso se espalhando pelos interiores - estradas, rádios, caminhões, o retrato no Título de Eleitor, a cédula única - o Coronelismo se abalava porém, não morria. Quando o primeiro Coronel do Sertão pernambucano foi processado por um crime de morte, houve a previsão do desaparecimento do mandonismo local, erroneamente. O último Coronel já foi cantado muitas vezes, sem nunca ter sido o último. Ainda hoje, existem alguns políticos do interior querendo apresentar o espírito dos velhos Coronéis, em vão. São apenas projetos que não chegam aos pés do que foram os grandes Coronéis do passado. Senão, vejamos o que disse José Augusto, sobre o seu conterrâneo José Bernardo à época do seu centenário transcorrido à 20 de agosto de 1937. O trabalho do insigne homem de letras tem o título de: “UM CHEFE SERTANEJO - JOSÉ BERNARDO DE MEDEIROS” e vem publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do RN, em seu Volume XXXII a XXXIV - anos 1935-37 às páginas 97 a 128. Começa assim:
“Há na História política do Nordeste uma página de justiça a escrever: é aquela a que têm direito os chamados chefes políticos locais, os Coronéis tão pejorativamente encarados por quantos se ocuparam até aqui do estudo ou da crítica dos nossos costumes político-partidários”.
Certo, houve sempre entre eles gente da pior espécie, exploradores das posições em que eram mantidos por longos anos pelo bafejo e prestígio de apoio oficial, pela força que lhes davam governos desabusados, dirigindo os municípios que tomavam sob sua guarda e chefia pelos mais condenáveis processos, muitas vezes violentos, por outras tantas desonestas. Mas, a influência de tais guias e condutores era efêmera, passageira, fugaz, desaparecendo e sumindo-se tão pronto cessava o suporte governamental que lhes assegurava a permanência e garantia o predomínio nefasto. Tais chefes não se improvisavam e independiam da vontade dos governos, mantendo-se, nas horas de bonança ou de ostracismo, em virtude do prestígio que lhes advinha espontâneo e sólido, de irrepreensível confiança popular. Eram verdadeiras autoridades sociais, postas à frente de todos os movimentos em face de qualidades excepcionais, notadamente qualidades de caráter, e uma contínua preocupação pelo bem público. Os coronéis existiram porque tinham eminente função social a desempenhar, e da sua ação, particularmente na zona do Seridó cujo passado estudei detidamente, na generalidade dos casos, o que a justiça manda proclamar é que foi benéfica, altruística, necessária, imprescindível mesmo.”

Portanto eis aí, em síntese, o que representou o Coronelismo no Brasil político de antanho.
PS: No século passado, muitos coronéis estiveram em cena em Pernambuco: Veremundo Soares controlava tudo em Salgueiro; coronel Quelé, chefe do clã dos Coelho, mandava em Petrolina; Zé Abílio reinava em Bom Conselho. Chico Heráclio era o rei de Limoeiro. Mandou na cidade desde 1920, quando foi eleito prefeito, até a sua morte, em 1974, aos 89 anos de idade. Conhecido com “O Último Coronel de Pernambuco”, foi personagem de várias história de abuso de poder. (fonte: http://www.pe-az.com.br/)

(*) Sócio da SBEC, reside em Nova Floresta - PB.

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