SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O Eterno "Rei do Baião"

Luitgarde Barros (*)
Até à década de 70 só existiu a voz do conhecido Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Depois que ele conseguiu lançar Gonzaguinha, que é também muito bom, mas não tem a genialidade nem o destino de ser a voz do sertão nordestino- conhecido no mundo inteiro pela beleza da música e de todas as manifestações populares de arte a partir de Luiz Gonzaga, o sul maravilha iniciou um processo de inversão de valores, até o Rei do Baião ser transformado no "pai de Gonzaguinha,e ser agora alcunhado de Gonzagão"!
A sanfona de Luiz Gonzaga tem em Dominguinhos, Sivuca, Hermeto Paschoal e tantos outros, sucessores geniais continuando a geração de poderosos instrumentistas mostrando a verve criativa do sertão do Nordeste.
Mas Luiz Gonzaga continua inigualável por ter sido dotado pelos santos protetores dos nordestinos de voz, domínio da sanfona, orgulho de sertanejo, paixão pela natureza cinzenta ou verdejante da caatinga. muita verve, simpatia e o arrojo necessário à conquista dum espaço na vida. Ele cantou a dignidade de todas as profissões do homem pobre do sertão, mostrando ao mundo a riqueza incomparável da cultura dos repentistas, extraindo o belo do canto triste dos cegos nas feiras e dos aboios plangentes dos vaqueiros.
A Acauã e o Assum Preto, em sua voz polífônica e inspirada, voam do nicho ecológico das caatingas e se transformam em ícones da fauna mundial. Espalhando as festas do São João do Nordeste, leva por todo o Brasil, ecoando pelo mundo, a alegria dos trabalhadores da roça comemorando a fartura do povo no sertão chuvoso.
Mesmo se apresentando como "o filho de Januário - o maior tocador de oito baixos do Pajeú" - foi-lhe imposto, pela admiração de músicos do porte de Guerra Peixe, o título "Luiz Gonzaga o Rei do Baião"!
Sou tão fã de Gonzaguinha, que vivo pleiteando que a bela música onde ele brada aos céus: "Não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz" se torne o hino da humanidade contra o desemprego avassalador, estratégia criminosa do neoliberalismo, tirando do homem que trabalha toda dignidade e capacidade de sobrevivência, como denuncia o "filho de Luiz Gonzaga". Até o filho que deixou é testemunho da grandeza de um artista filho das camadas pobres e trabalhadoras do Nordeste.
Viva o eterno LUIZ GONZAGA!

(*) Escritora, sócia da SBEC.

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