SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Lampião, O Sertão e Sua Gente

Este livro procura contribuir com o debate a respeito da História dos conflitos sociais ocorridos nos sertões do Nordeste, tendo o cangaço como objeto de análise. Trata-se de um movimento constituído de várias nuances no tempo e no espaço. Suas primeiras manifestações ocorreram na década de 1830, com grupos espontâneos que agiam no meio rural, instrumentalizados para resolver disputas políticas entre os potentados locais ou pela propriedade da terra.
O cangaço sempre foi caronista dos momentos de crises políticas e sociais ocorridas em várias etapas da História do Brasil. O auge das suas ações e da organização cangaceirista se deu nas três primeiras décadas do século XX, sobretudo com o surgimento de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, a partir de 1918.
O leitor vai ter a oportunidade de compreender parte da história da gente sertaneja e o seu modo pacato de vida em meio a um furacão de agitações e de conflitos com suas crendices e imaginários, nos quais se inclui os cangaceiros, as volantes e os próprios coronéis fundiaristas. Apesar de focar as questões relacionadas ao cangaço, o livro também faz alguns flashs a respeito de outros movimentos sociais que ocorreram em várias localidades do território brasileiro, tais como Canudos e a Revolução Federalista, que eclodiram na última década do século XIX; Contestado e a Sedição do Juazeiro, na segunda década do século XX; Caldeirão e Pau-de-Colher, na terceira década. Todos esses movimentos tinham em comum a luta pelo acesso e posse da terra, exceto a Revolução Federalista e a Sedição do Juazeiro que apresentavam um cunho mais político.
O cangaço chegou ao fim em 1940, com a morte de Corisco e a prisão de Dadá, mas as questões da grilagem, do acesso e posse da terra não foram resolvidas, da mesma forma que a vingança como forma de fazer justiça ainda persiste. Nos últimos anos, padres e freiras vêm sendo assassinados, o que não ocorria no tempo de Lampião.
Portanto, a situação piorou porque naquela época apenas os trabalhadores sem terra e os índios eram vitimados. Apagaram Lampião, mas os problemas da terra continuam acesos, acrescidos da degradação ambiental, incluindo a devastação da floresta Amazônica, haja vista o que ocorre no Pará e na Reserva Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Essa reserva é propriedade do Estado brasileiro e moradia de cinco grupos indígenas entre eles os Macuxi e Igarikó, onde os grileiros e os pistoleiros com os seus clavinotes andam soltos e a justiça aprisionada e submissa; não é a Zona da Mata, mas sempre terá um cabra marcado para morrer.
As questões urbanas, de forma sucinta, também estão contempladas no final deste trabalho. Na verdade, parcela significativa dos problemas urbanos tem relação direta com a falta de solução das questões sociais, geradas pela estrutura fundiária no meio rural do país ao longo da história, que expulsou enorme contingente de pessoas para as cidades.
Capítulos do livro: I. O espaço geográfico do cangaço / II. A gênese de Lampião e do cangaço / III. Lampião como líder carismático / IV. Tradição oral e o imaginário popular no cangaço / V. Punição, força e o abuso de poder nos sertões do Brasil.
Apresenta as considerações finais do autor, Genealogia de “maus” feitores e uma rica bibliografia.
Sobre o Autor: José Vieira Camelo Filho, que assina Zuza Vieira Camelo, nasceu em 14 de junho de 1952, no Ingongo, Fazenda Gameleira, Distrito do Espírito Santo, município de São João do Piauí-PI. É pesquisador do Rio São Francisco, professor da E. E. Prof. Emygdio de Barros, Pós-Doutor em Políticas Públicas, Doutor em Economia, Especialização em Economia do Trabalho e Sindicalismo pela Unicamp. Mestre em História, Bacharel em Ciências Sociais, Geografia e Licenciatura em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP. No Pós-Doutorado, elaborou uma pesquisa a respeito do Rio São Francisco e do seu Vale. No Doutorado teve como objeto de estudo as estradas de ferro do Nordeste e para realização do Mestrado desenvolveu uma pesquisou acerca do cangaço. É autor do livro "Espírito Santo: um pontinho do Brasil que não pode ser apagado", Edições Pulsar, 2001.

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