SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Virunduns

Damião Nobre
Quem nunca cantou a letra de uma canção cometendo erros absurdos e virando motivo de gozação, que atire a primeira pedra. Os erros são explicáveis e decorrem de vários fatores. Quem canta o faz da forma que entendeu. A estranheza da letra, o uso de gíria e termos de uso restrito em determinadas “tribos”, a dicção do intérprete, o conhecimento lingüístico de quem ouve e reproduz, a idade, a cultura, são fatores que modificam o entendimento. Se não temos dialetos, os regionalismos também dificultam a compreensão de determinados termos e, assim, palavras usadas no Rio Grande do Sul, por exemplo, podem se tornar às vezes incompreensíveis no Rio Grande do Norte e vice-versa. Na música regional os problemas podem ser maiores, mas na chamada MPB o problema também existe. Djavan, com suas letras bem características, é um exemplo significativo de confusão no entendimento.
Muita gente deve se lembrar do episódio ocorrido com o jogador Beto, num jogo da seleção brasileira. Quando os microfones da televisão captaram sua voz, ele cantava o hino nacional mais ou menos assim “O hino, o inspirano e os magis placius...”
Pois bem, foi exatamente inspirando-se no hino nacional (Ouviram do Ipiranga as margens plácidas) que surgiu o termo VIRUNDUM para designar letras de músicas mal entendidas e cantadas de forma errada. Há três anos, existe um blog na Internet onde o tema é este, com contribuições as mais engraçadas.
Além dos motivos já citados, o uso de termos de outra língua pode confundir o ouvinte como o “l’argent” de "Amigo é pra essas coisas", mas parece não haver termo que provoque mais confusão que Trenchtown, da canção "Alagados", antigo hit do grupo Paralamas do Sucesso. Cada pessoa entende e canta de um jeito. A propósito, Trenchtown é um gueto localizado na Jamaica, onde morou Bob Marley e título de um de seus discos mais conhecidos. Para competir com o virundum de Alagados, somente o sucesso Noite do prazer, da banda Brylho, que tinha como vocalista o cantor Cláudio Zoli com o verso “tocando B. B. King sem parar”, transformado, via de regra, em “trocando de biquíni sem parar”.
Há várias histórias que tentam explicar a origem do termo VIRUNDUM. Uma delas dá como seu criador o jornalista Paulo Francis, um dos mais importantes intelectuais do Brasil, no final do século que passou, especialmente na época da ditadura, fundador e um dos principais colaboradores do jornal O PASQUIM, uma verdadeira lenda na história da imprensa e da comunicação em nosso país. Pode ser.
Finalizando, vou enumerar alguns dos mais famosos e conhecidos virunduns.
Divirtam-se.
Eu sou aquele que errou (Máscara Negra)
Meu frango olhando a primavera (Meu pequeno Cachoeiro)
Quitéria tem um peixe (Borbulhas de amor)
Tira essa bermuda que eu quero ver seu sexo (Como eu quero)
Ao sair do avião, um divisor, um irmão (Açaí)
Cortando o fio dental (Como nossos pais)
Scubidu dos sete mares (Descobridor dos sete mares)
Os alpinistas estão chegando (Os alquimistas estão chegando)
Respeita o ôi de baixo do seu pai (Respeita Januário)
Um homem pra chamar Dirceu (Mesmo que seja eu)
Biologia, eu quero uma pra viver (Ideologia)


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