SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Os Cangaceiros Culturais

Francisco Pereira Lima (*)
Arte: Ruben Wanderley Filho
Durante várias décadas, os cangaceiros percorreram parte do interior da Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, armados de rifles e fuzis, longos punhais e parabelum.
Esses cangaceiros reais foram frutos de uma estrutura econômica, política, agrária e educacional injusta, arcaica e cruel, que alimentava a ignorância, a violência e a cultura da vingança, em que se fazia justiça com as próprias mãos, baseado no princípio de “dente por dente, olho por olho”.
Os bandoleiros, montados ou a pé, chegavam a percorrer 120 km numa única marcha, através das caatingas, serras e vales, estradas e veredas, na chuva ou no sol, suportando fome e sede, fugindo da polícia ou para alcançarem um lugar seguro para se proteger.
O cangaço entrou em decadência com a morte de Lampião, em 1938, e chegou ao fim em 1940 com a morte do temido cangaceiro Corisco. Mas, como fonte de estudo e pesquisa continua em plena evidência, pois centenas de estudiosos e pesquisadores, denominados de “Cangaceiros Culturais”, munidos de jornais, livros, revistas, processos, gravadores, máquinas fotográficas, lápis e papel, não medem distância, nem pesam dificuldades, na busca de vestígios, informações, entrevistas, lugares marcados pelo cangaço, seminários, palestras e debates sobre o cangaço, história e cultura nordestina. Esses homens e mulheres obstinados viajam de Mossoró a Juazeiros do Norte; de Serra Talhada a Poço Redondo-Se; de São Paulo a Fortaleza; de Cajazeiras-PB a Aurora-Ce, por estradas, veredas e trilhas, investigando, discutindo, entrevistando e pesquisando nas fontes inesgotáveis da nossa história. Na maioria das vezes, custeando suas próprias despesas.
O resultado das práticas e ações dos “Cangaceiros Culturais” são as dezenas de publicações de livros, revistas, jornais e artigos sobre a música de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Trio Nordestino; sobre a poesia de Patativa do Assaré e Augusto dos Anjos; sobre o Cordel de Leandro Gomes de Barros e Francisco das Chagas Batista; sobre os cantadores repentistas, Otacílio Batista, Pedro Bandeira e Pinto de Monteiro; sobre o xaxado, coco de roda e o reisado; Sobre Pe. Ibiapina, Pe. Cícero do Juazeiro, Zé Lourenço do Caldeirão, Antonio Conselheiro de Canudos, sobre os cangaceiros Jesuíno Brilhante, Antonio Silvino, Sinhô Pereira, Lampião e Chico Pereira, sobre os tropeiros, vaqueiros, engenhos e farinhadas; sobre a seca, coronelismo e as brigas de famílias pelo comando político ou posse da terra. É um trabalho, muitas vezes, anônimo, mas que tem um excelente resultado para divulgação da nossa história e cultura.
Não devo citar nomes, para não cometer injustiças, mas faço uma homenagem a todos através de dois incansáveis pesquisadores da SBEC, Paulo Gastão e Kydelmir Dantas os quais orgulham a classe dos “Cangaceiros Culturais”.
(*) Professor, pesquisador e membro da União Nacional dos Estudos Históricos e Sociais.

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